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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Santa Maria Madalena

A memória de Santa Maria Madalena traz à nossa meditação e reflexão a história desta mulher que o Evangelista São João nos diz que permaneceu chorando junto ao sepulcro mesmo depois de o ter visto vazio e de ter ido anunciar aos discípulos que o Senhor Jesus não estava no túmulo. E é neste modelo e exemplo que nos confrontamos irremediavelmente com os equívocos de Maria Madalena relativamente ao ressuscitado e as palavras “levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. Palavras que em qualquer momento podemos fazer nossas, pois nós muitas vezes também não sabemos onde colocaram o nosso Senhor, também não sabemos como fomos capazes de o deixar levar. Na escuridão da noite, tal como Maria Madalena, também nós buscamos o Senhor, o corpo morto do Senhor, para lhe prestar uma última homenagem, um último respeito, ou realizar talvez uma autópsia, dissecando nos instrumentos da nossa auto-suficiência o corpo e a história desse homem que loucamente nos quis filhos de Deus. E nessa noite esbarramos com o sepulcro vazio, sem um corpo para dissecar, e choramos porque perdermos o objecto do nosso desejo, aquele corpo que nos poderia confirmar a satisfação da posse. Esquecemos que neste sepulcro não há corpo, não pode haver um corpo, porque o corpo é sempre um limite, uma possibilidade de propriedade, e com Jesus o corpo é manifestação, é encarnação, passagem de Páscoa libertadora. E no choro da perda, tal como Maria Madalena, nem nos damos conta que no sepulcro ficaram as ligaduras e o lençol, e que à cabeceira e aos pés se encontram os anunciadores da palavra de Deus, esses seres de luz que são os anjos. Os indícios de um outro corpo, de uma outra presença são-nos imperceptíveis, ainda que presentes e inequívocos, e inevitavelmente manifestados quando interpelados pelo nome que nos foi dado. Maria! Foi o suficiente para que o choro e o sentimento de perda terminassem, para que se manifestasse essa presença ainda pouco antes irreconhecível e imperceptível. O nome é o novo corpo, afinal uma outra encarnação, a possibilidade de passagem e relação. E é no nosso nome, e nesse apelo ou convite que nos podemos encontrar com o corpo de que somos membros, o corpo que é luz e vida, o corpo do ressuscitado. Graças ao amor, e à perseverança de se manter frente ao sepulcro vazio, Maria Madalena foi a primeira a ver o Jesus ressuscitado, ela que o julgava perdido e sem possibilidade de encontro. Também nós, como ela e seguindo o seu exemplo, somos convidados a buscar perseverantes na noite o Senhor que julgamos perdido, ou não sabemos onde encontrar. E se o nosso desejo de encontro, o nosso amor, for suficiente para persistirmos na busca, ainda que entre lágrimas, o encontro acontecerá e far-se-á maravilhoso pelo apelo do nome, do nome de cada um de nós.
Texto modificado do blog Praedicatorum

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